Não é fácil
Quando existem fronteiras
Impedindo um vôo rasante
Mergulhados em trincheiras
Mudando a rota de um viajante.

Não é fácil
Quando estamos distante de casa
Preso pela crise de consciência
Machucado em uma asa
Perdido no universo da inocência.

Não é fácil
Se for pra viver sem o teu amor
Circular todos os dias na prisão
Perder a esperança e o humor
Ouvindo no rádio uma antiga canção.

Não é fácil
Se tentar e não conseguir correr
Preso aos pés pesadas correntes
Tentando em vão te esquecer
Na turma dos desistentes.

Não é fácil
Pernoitar em uma fria calçada
Gastando todos os porquês
Esperando sem esperança a amada
Tentando rimar versos em inglês.

Não é fácil
Recuar diante de uma possibilidade
Apalpar o real sonho de te-la
Sentir o gosto amargo da realidade
No brilho perdido de uma estrela.

Não é fácil
Prender a voz quando queremos gritar
Voar rodopiando em um só pensamento
Não conseguir traduzir o verbo amar
Comer na sobremesa o próprio sentimento.

Não é fácil
Comer fel  quando desejamos uva
Cair sobre pressão de uma ponte
Ao invés de sol querer sentir a chuva
E não beber da água da fonte.

(Antonio dos Anjos-Viola,17/06/2007)